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Caso Renato Russo ‘vai muito além de fãs divulgando material na internet’, diz Fernanda Tórtima

O Globo | 28 Out 2020

Pivô da Operação Será, que resultou em buscas na casa do produtor musical Marcelo Froes, Josivaldo Bezerra é investigado por tentativa de estelionato, e afirma que apresentou provas de sua inocência

Fã da Legião Urbana e pivô da Operação Será, que resultou em buscas da Polícia Civil do Rio na casa do produtor musical Marcelo Froes atrás de material supostamente inédito da banda, Josivaldo Bezerra da Cruz Junior é investigado desde 2016 por “tentativa de estelionato, violação de direito autoral e, possivelmente, receptação”. Essas são as acusações relatadas em notícia-crime de 2016 por Giuliano Manfredini, filho e único herdeiro de Renato Russo (1960-1996), na época referentes a Ana Paula Ulrich Tavares, pseudônimo que Josivaldo usava para ser um dos administradores da página Arquivo Legião no Facebook.

No documento, a que o GLOBO teve acesso, há reprodução de mensagens em que Ana Paula finge ser uma jornalista da agência Reuters para abordar a Legião Urbana Produções Artistas Ltda., empresa de Giuliano, sobre suposto material inédito do músico. A reportagem entrou em contato com o investigado, com seu advogado, e com a advogada de Giuliano, Fernanda Tórtima, já que o herdeiro optou por não dar entrevista.

— Não posso falar sobre o processo, mas a investigação vai muito além de fãs divulgando material utilizado na internet — disse Fernanda.

As acusações e a defesa

De acordo com a notícia-crime apresentada pelo herdeiro em 2016, em janeiro daquele ano, Josivaldo/Ana Paula entrou em contato com um funcionário da empresa de Giuliano, para tentar negociar material do músico que estaria em poder da Reuters. “Achamos recentemente gravações totalmente inéditas do Renato Russo através de um trabalho da agência em parceria com a (TV) Globo (…) Este é um assunto sério e valioso, por isso não dá para usar meios de comunicação normais. Me indique alguém com quem possa falar sobre isso”, teria escrito, em mensagem reproduzida. “Ana Paula” estaria pedindo “exclusividade para a realização de reportagens sobre o conteúdo histórico encontrado”, de acordo com a acusação.

O investigado assume que sua personagem, Ana Paula, se dizia jornalista da agência de notícias, e fez um post público em 2019 para pedir desculpas aos seguidores.

O material a que ele se referia na mensagem à empresa de Giuliano eram gravações de Renato com o músico sul-africano André Pretorius, morto em 1988. O mesmo material, porém, já havia sido prometido a Giuliano pelo jornalista Carlos Marcelo Carvalho, autor da biografia “Renato Russo: o filho da revolução” (2009). Com isso, o herdeiro acreditou que estava sofrendo uma tentativa de golpe. No dia 28 de março de 2016, Carlos Marcelo entregou a fita ao filho de Renato, que por sua vez foi encaminhada para tratamento e catalogação no acervo do músico no Museu da Imagem do Som de São Paulo.

A notícia-crime também critica as intervenções em arquivos de áudio para “isolar” a voz de Renato Russo, que foram publicadas na internet. E levanta suspeita de que “Ana Paula” tenha entrado no apartamento de Renato Russo em Ipanema para pegar material. Na segunda-feira, Josivaldo disse ao GLOBO que “só foi a Ipanema uma vez na vida, no ano passado”.

Apesar de não se manifestar sobre o caso de Josivaldo, Fernanda Tórtima, a advogada de Giuliano, comentou a busca na casa do produtor Marcelo Froes. Ela afirmou que nem ela, nem seu cliente, sabiam da existência da Operação Será até esta segunda-feira.

— A defesa pediu que ele [Marcelo Froes] fosse ouvido, mas só tomou conhecimento sobre a busca e apreensão pela imprensa — afirmou.

Fernanda Tórtima comentou a versão que o pesquisador musical e produtor Marcelo Froes deu ao GLOBO e outros veículos após a Operação Será. Ele negou ter qualquer material indevido em seu poder e se queixou por não ter sido procurado por Giuliano na última década antes de acordar com a polícia em sua porta.

Durante anos, após a morte de Renato, Froes representou a família do cantor junto à gravadora EMI, situação que mudou depois que o herdeiro do músico assumir a gestão da Legião Urbana Produções Artísticas Ltda.

— Ele nunca me procurou, nunca demonstrou interesse em saber o que eu sabia. Infelizmente, ele virou as costas para todo mundo — disse Froes em entrevista ao GLOBO na última segunda-feira.

— Nunca houve nenhuma relação entre os dois para justificar que Giuliano o procurasse por qualquer razão após assumir a empresa, em 2013 — diz Fernanda Tórtima.

Leia mais na reportagem publicada pelo jornal O Globo.